Olá pessoal! Tudo bem? Demorei um pouco para escrever aqui no blog sobre esse assunto tão importante na rotina do Urologista Pediátrico, mas saiu!
Pois bem! Aqui tentarei desmistificar essa doença de maneira simples e agradável, OK?
Bom, vamos lá.
O refluxo vésico(bexiga)-ureteral, ou RVU, nada mais é que a passagem da urina da bexiga para o trato alto urinário (ureter e rins).
A bexiga apresenta mecanismos que impedem que a urina, retrogradamente, chegue aos rins. Quando algum desses mecanismos falha, a urina pode refluir para os ureteres e, dependendo da gravidade, atingir os rins.
Por si só, o refluxo não causa problemas. Porém, quando o RVU transporta, além da urina, bactérias para o rim, o mesmo pode desenvolver infecções graves (pielonefrites). Cada infecção pode gerar cicatrizes nos rins, e, se não tratados adequadamente, hipertensão arterial e doença renal terminal!
Podemos classificar RVU como PRIMÁRIO – decorrente da incompetência da junção ureterovesical (JUV) de impedir o retorno da urina para os rins; ou SECUNDÁRIO – devido a alguma alteração funcional ou anatômica da bexiga. Cada tipo de RVU necessita de um tratamento específico.
O RVU é uma doença relativamente comum – atinge cerca de 1% dos nascidos a termo. Quando, em algum exame pré-natal, encontramos dilatação em algum dos rins, a doença está presente em 15%. Já em crianças com infecção urinária febril a incidência pode chegar até 40%!
Outras características são: preferência por crianças brancas, meninas e menores que 2 anos.
Podemos levantar a suspeita do diagnóstico de duas maneiras principais: uma no período gestacional e outra no pós parto/infância. Na primeira ocasião, o achado que chama a atenção é a dilatação de um ou ambos os rins em algum ultrassom morfológico. Naqueles pacientes cujo exame veio normal, um episódio de infecção urinária (ITU) com febre leva o pediatra a suspeitar da doença.
Pois bem, existem algumas alternativas para se seguir com a investigação. Vou deixar aqui alguns exames que podem ajudar no diagnóstico. Um dos principais exames, devido sua disponibilidade, é a ultrassonografia – trata-se de um exame simples, inócuo e barato. Traz grandes achados quando bem realizado. Já o DMSA (cintilografia) é importante na avaliação das cicatrizes e função renal.
Porém, veja que ainda não citei qual exame é de fato aquele que fecha o diagnóstico. E ele é a uretrocistografia miccional e retrógrada (UCMR – exame cujo enchimento da bexiga com contraste é feito por uma sonda, e onde se realiza algumas radiografias). Como esse exame é invasivo e apresenta alguns riscos (infecção, sangramento), ele deve ser solicitado apenas quando há grandes chances de se encontrar alterações, apenas para confirmar o exame e classificar a gravidade.
Após exame de UCM, devemos classificar o RVU, e assim, avaliar o tratamento mais adequado para cada caso. Deixo aqui embaixo os graus de refluxo:
Não somente o grau do refluxo determina o tratamento. Outras variáveis que entram na equação para melhor indicação são: idade, sexo, lateralidade (se apenas de um lado ou ambos), uso de fralda, alterações no hábito intestinal, profilaxia com antibiótico, entre outros.
O objetivo principal, independente da opção do tratamento, deve ser:
– Prevenir novos quadros de infecção e pielonefrite
– Prevenir danos renais (cicatrizes)
– Evitar morbidade no tratamento
– Identificar e tratar a disfunção vésico-intestinal (leia mais sobre ela no blog!!)
Entre o arsenal terapêutico contamos com antibióticos, laxantes, modificação dos hábitos de vida e treino miccional, cirurgias endoscópicas (dentro da bexiga), cirurgia aberta, laparoscópica e robótica.
Veja, cada caso é um caso. Não existe uma receita de bolo. Quando se fala de refluxo vésico-ureteral, a avaliação detalhada de cada variável é fundamental para indicar o melhor tratamento. Nesses casos, a participação familiar é fundamental. Deve-se explicar todos os tipos de tratamentos possíveis com seus riscos e benefícios. E, finalmente, em conjunto definir o tratamento mais adequado.